Cão-guia em tempos de pandemia: rotinas do animal devem ser mantidas mesmo em casa4 min de leitura

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Aplicar comandos e preservar o relacionamento estreito entre o cão-guia e o cego contribui para com o bem-estar e a manutenção do treinamento do animal

Celebramos o Dia Internacional do Cão-guia (última quarta-feira de abril – 29/04) em meio ao enfrentamento à pandemia de Covid-19. Apesar de o isolamento social não ser considerado de grande impacto para estes cães de serviço, é fundamental manter algumas rotinas para preservar o bem-estar e a eficiência do treinamento destes animais que têm a importante missão de guiar pessoas com deficiência visual.

Diferente de outros cães de serviço, o cão-guia é naturalmente mais calmo, tanto pelo treinamento recebido, quanto pelas características inatas, que são parte do critério de seleção dos animais nas ninhadas. Por esse fator, o impacto da quarentena para eles pode ser menor do que para os cães de companhia. É o que comenta o zootecnista Alexandre Rossi, profissional da área de Comportamento Animal e integrante da Comissão Técnica de Bem-Estar Animal (CTBEA) do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

“Mesmo quando pertencem a pessoas bastante ativas, os cães-guia ficam boa parte do tempo quietos, muitas vezes deitados embaixo da mesa de trabalho de seu tutor. Eles não passam o tempo todo guiando e, ainda assim, quando o fazem, caminham em passadas tranquilas”, afirma Rossi, que atuou por três anos acompanhando treinamento de cães-guia na escola Guinding Eyes for the Blind, em New York (EUA). 

O argumento de Rossi não quer dizer que haja impacto zero com a quarentena, mas que é possível preservar, em ambiente doméstico, pontos essenciais a esses animais. “O animal precisa receber comandos e manter forte a parceria com a pessoa que ele guia.” 

O zootecnista lembra que cães estão sempre aprendendo com estímulos diversos e, se houver descuido na lida com eles, podem ser necessários alguns ajustes no treinamento.

Em casa, mas na ativa

Com essa preocupação e grande senso de responsabilidade, Rafael Fortes Braz, de 38 anos, aproveita o amplo espaço de sua residência para manter ativo o seu cão-guia, Popeye, enquanto está suspensa a rotina do jovem instrutor de formação profissional em gestão – que começa às 5h30 e termina após às 23h, incluindo trabalho, atividades físicas na academia e as aulas presenciais da terceira graduação de Braz, em Pedagogia.

“Para manter a qualidade do treinamento e evitar o sedentarismo, faço, diariamente, caminhadas com o Popeye, com a guia, pelo quintal e pelo corredor extenso que tenho em casa”, conta. 

Outra medida adotada por Braz foram as subidas e descidas da escada com o cão-guia. “São duas sessões de dez vezes, sempre aplicando os comandos e mantendo os estímulos com o Popeye.”

Uma vantagem de Popeye, além do cuidado e do amplo espaço, é a convivência com Ozzy, o cão-guia aposentado de Braz. “Eles passam mais tempo brincando e eu aproveito para aplicar as mesmas dinâmicas diárias também com o Ozzy, que demonstra gostar muito.”

Para o jovem, que perdeu completamente a visão aos 21 anos, em decorrência de uma doença congênita, ter um cão-guia requer muito comprometimento em qualquer situação. “Mas mantenho todos os cuidados com muito amor, pois, com eles, pude concretizar planos importantes em minha vida, o que é algo indescritível.”

Caminhadas estratégicas

Aos que não possuem espaço em casa como Braz, Popeye e Ozzy, a indicação da presidente da CTBEA do CRMV-SP, Cristiane Pizzutto, médica-veterinária cuja atuação tem ênfase em Bem-estar Animal, é acrescentar às dinâmicas em casa algumas rápidas caminhadas pelo condomínio ou pelas ruas mais próximas.

Trata-se de uma necessidade do animal treinado para guiar e, também, de um cuidado com a segurança da pessoa com deficiência visual que se apoia no trabalho desse cão de serviço.

A orientação majoritária é que as saídas respeitem as medidas preventivas contra o Coronavírus. Por isso, devem ser escolhidos trechos e horários em que há menor movimentação. “São indispensáveis, ainda, os cuidados com a higiene na volta para casa, com a limpeza das patas e pelos do animal”, comenta Cristiane.

“No que diz respeito à manutenção do treinamento do animal, outra questão importante durante as caminhadas é o rigor contra possíveis abordagens ao cão-guia ou outras interferências”, destaca a médica-veterinária, afirmando, ainda, que as saídas não são passeios, mas trajetos em que o cão deve entender que está desempenhando o serviço de guiar.

Atenção aos hábitos 

Segundo Alexandre Rossi, as necessidades fisiológicas do cão são um tópico que não pode deixar de receber atenção especial em um momento de mudanças na rotina como o que estamos vivenciando. “Os cães-guia aprendem a fazer xixi e coco sob comando e em lugares adequados. É importante manter os hábitos usuais nesse sentido com os animais.”

Mudanças bruscas nesse aspecto podem desencadear interferências comportamentais e prejudicar o bem-estar e a saúde do animal.

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