Mudança nos sintomas da raiva em animais requer atenção redobrada de clínicos7 min de leitura

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Vigilância, orientação aos tutores e notificação aos órgãos oficiais são prioridades

Com a disseminação do Sar-CoV-2, as atenções se voltaram à Covid-19. Outras doenças graves, porém, também precisam de um olhar cuidadoso. É o caso da raiva, que, em animais, passou a apresentar sinais diferentes dos observados no passado, o que pode acarretar a identificação tardia da zoonose e uma perda no aspecto preventivo.

É o que alerta o Prof. Dr. Sílvio Arruda Vasconcellos, secretário-geral do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP). “A clássica agressividade nos animais infectados não tem sido observada. Já paralisias, salivação e ausência de apetite são sinais considerados mais comuns na atualidade.”

No Estado, segundo a Prof. Dra. Valéria Gentil de Tommaso, que integra a Comissão Técnica de Políticas Públicas do CRMV-SP e atua no Instituto Pasteur, a mudança no perfil clínico da doença está atrelada ao fato de que, desde 1998, a variante 2 (canina) do vírus rábico não circula. “Houve, apenas casos isolados em cães e gatos, com variantes de morcegos.”

De 2002 a 2020, no estado de São Paulo, foram registrados 13 casos de raiva em cães e 20 em gatos. “O número é relativamente pequeno, porém, não podem ser desconsideradas subnotificações ou, ainda, a não detecção de casos, uma vez que houve mudança no perfil clínico da doença”, diz Valéria.

Sintomas neurológicos e o diagnóstico diferencial 

Neste contexto, é preciso que os médicos-veterinários clínicos estejam atentos a animais com sintomas neurológicos e incluam a raiva no diagnóstico diferencial. De acordo com a Nota Informativa nº13/19 do Ministério da Saúde (MS), foram elencados os seguintes critérios em cães e gatos:

Com sinais e sintomas neurológicos que foram a óbito ou submetidos à eutanásia; que morreram no período de observação de 10 dias após a agressão; os encontrados mortos por atropelamento ou sem causa definida; e suspeitos de raiva, advindos de clínicas particulares, faculdades ou outros estabelecimentos, que foram a óbito ou submetidos à eutanásia.

Vírus identificado em morcegos frugívoros 

Outro ponto que Vasconcellos enfatiza merecer destaque é o fato de ter sido identificado o vírus circulando em populações de morcegos frugívoros, em diversos estados brasileiros. O risco, nesse contexto, se dá pelo contato destes com morcegos hematófagos, de forma a transmitir o vírus aos que se alimentam de sangue.

“Como se sabe, os frugívoros podem, ainda, cair em locais em que transitam pessoas e animais, o que facilita a ocorrência de mordidas acidentais, por meio das quais pode haver transmissão do vírus”, frisa Vasconcellos. O alerta é ainda maior se considerado que 90% das espécies de morcegos identificadas com raiva estão em áreas urbanas, de acordo com o MS.

O papel do médico-veterinário 

Os profissionais da Medicina Veterinária, em especial o clínico, têm papel fundamental na vigilância da raiva, uma vez que, na rotina de atendimento, será o primeiro a avaliar o animal doente, identificar a suspeita e notificar o serviço público. Também por isso, os profissionais devem manter-se prevenidos contra a raiva, com seus controles sorológicos anuais.

“O médico-veterinário é estratégico, ainda, na orientação dos tutores quanto ao comportamento de cães e gatos e quanto à prevenção de mordeduras”, destaca Valéria, que ainda argumenta que, no Estado, há aproximadamente 120 mil atendimentos antirrábicos humanos anualmente, dos quais 85%, em média, são causados por cães e, 12%, por gatos.

Confira quais as instituições que realizam o diagnóstico laboratorial da raiva, aqui no estado de São Paulo:

– Instituto Pasteur (Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo);

– Instituto Biológico (Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo);

– Centro de Controle de Zoonoses (Secretaria de Saúde do município de São Paulo);

– Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP);

– Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (FMVZ-Unesp), campus Botucatu;

– Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-Unesp), campus Araçatuba.

Campanha de vacinação antirrábica é suspensa em São Paulo 

Imunizar cães e gatos continua sendo de extrema importância

Após decisão conjunta da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo com as administrações públicas dos municípios paulistas, a campanha de vacinação de cães e gatos contra a raiva não será mais realizada. O principal motivo é o risco de transmissão do novo coronavírus (Sars-CoV-2), que é potencializado em situações de aglomeração de pessoas.

A suspensão da campanha foi oficializada por meio de uma deliberação (CIB nº 65/20), publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) no dia 07/08. Isso não significa que os pets não devam ser imunizados contra a raiva, que é uma doença grave em animais e humanos.

“Manter a carteira de vacinação dos animais de estimação em dia, com as doses anuais, é uma responsabilidade dos tutores”, ressalta a médica-veterinária Valéria Gentil de Tommaso, que integra a Comissão Técnica de Políticas Públicas do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

Para se ter uma ideia, de 2002 a 2020, no estado de São Paulo, foram registrados 13 casos de raiva em cães e 20 em gatos. “O número é relativamente pequeno, porém, não pode ser desconsiderada a não detecção de casos, pois a apresentação de sintomas da doença nos animais mudou e podem ser confundidos com os de outras doenças”, diz Valéria.

Onde vacinar o seu pet 

O serviço de vacinação está disponível em estabelecimentos privados de saúde animal, como clínicas e consultórios. Cabe ressaltar que a vacinação deve ser realizada por um médico-veterinário e nunca em balcões de petshops e casas de ração.

Os serviços públicos municipais também são uma alternativa, pois continuarão dispondo de doses gratuitas da vacina aos tutores que levarem seus animais até os postos fixos de atendimento de sua cidade. Neste caso, a orientação é buscar por informação junto às secretarias de Saúde.

Morcegos que comem frutas também podem transmitir a doença 

A população também deve estar atenta aos morcegos. O médico-veterinário Sílvio Arruda Vasconcellos, secretário-geral do CRMV-SP afirma que, no Brasil, foi identificado que o vírus circula entre os que se alimentam de frutas. Eles podem aparecer em residências, ruas e praças, por exemplo. “Estes morcegos podem cair em locais em que transitam pessoas – inclusive crianças – e cães e gatos, o que facilita a ocorrência de mordidas acidentais, por meio das quais pode haver transmissão do vírus”, frisa Vasconcellos.

Saiba o que fazer se uma pessoa ou um animal tiver contato com morcegos 

Em caso de morcegos encontrados em comportamento não habitual – por exemplo, caídos no chão ou avistados durante o dia – é indispensável procurar o serviço de saúde o mais breve possível. O animal não deve ser tocado.

O morcego precisa ser mantido no local para que a vigilância municipal providencie o recolhimento do animal para identificação e diagnóstico da raiva.

Confira outros cuidados para evitar a raiva: 

– não abra mão de manter seu pet vacinado contra a raiva todos os anos;

– não permita que cães e gatos tenham acesso à rua, desacompanhados (este tópico merece atenção redobrada aos gatos que, devido seu hábito noturno e de caça, podem ter maior chance de contato com morcegos. Mesmo os gatos que vivem em apartamento devem estar vacinados);

– não alimente ou tente contato com animais silvestres em parques;

– caso seja mordido por cães, gatos, morcegos ou animais silvestres, lave imediatamente o ferimento com água e sabão e procure atendimento médico.

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